Sistema Conselhos de Psicologia convida profissionais a tirarem racismo do vocabulário

O vocabulário utilizado no Brasil está repleto de expressões que relacionam a cor negra ou a negritude a aspectos negativos. Atento à questão, o Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRP18-MT), baseado em nota aprovada pela Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças (Apaf) do Conselho Federal de Psicologia (CFP), realizada em maio de 2018, aproveita para convidar os profissionais do estado a abolirem de seus textos termos que aparentam ser inofensivos, mas reforçam preconceitos e posturas racistas.

Leia baixo a íntegra da nota da Apaf.

 

Convite a tirar o racismo do nosso vocabulário

Expressões racistas naturalizadas repousam sobre uma longa história de desqualificação e desaprovação do povo negro e de tudo que se associa a ele. Há uma visão de mundo construída sobre opressão e preconceito, incorporada às falas das pessoas todos os dias, sem que isso pareça uma questão a ser pensada. Mais de 300 anos de escravismo fizeram parecer “normal” associar negritude e negatividade e as palavras possuem enorme importância na produção de sentidos que ocultam ou revelam determinados discursos. Precisamos estar atentas(os) para não aderirmos subjetivamente a discursos com os quais não pactuamos, através das palavras que escolhemos para nos expressarmos. As palavras dizem muito da história e da cultura de uma sociedade. Precisamos pensar a respeito, debater, refletir. Sutilezas, brincadeiras, piadas, palavras tidas como inofensivas e não mal-intencionadas, guardam risco de reproduzirem violências simbólicas sobre grupos sociais historicamente oprimidos. Nesse caso, estamos falando da lógica do clareamento, do branqueamento e da associação inadvertida de conotações negativas ao que é preto, escuro, e de conotações positivas ao branco, ao claro. A exemplo disso, a palavra denegrir, que significaria “tornar negro”, é utilizado para dizer “ofender”, “manchar a imagem”. Outras expressões, ainda, como “claramente”, “é claro”, “esclarecer”, ainda amplamente utilizadas formal e cotidianamente pela população em geral, por nós, psicólogas e psicólogos e pelo Sistema Conselhos, também em documentos e posicionamentos públicos, precisam ser substituídas. Como sugestão para concretização desse movimento de transformação, colocamos as expressões “explicar”, “explicitar”, “elucidar”, “deixar evidente”, “tornar nítido”, “dirimir dúvidas”. Assim, faz-se o convite a que sigamos juntas(os) na construção de posições mais cientes dos processos de desigualdade social estruturantes da sociedade brasileira.

Nota aprovada pela Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças (Apaf) em maio de 2018