Reunião antecipa discussões no curso “Emergências e Desastres”

Reunião antecipa discussões no curso “Emergências e Desastres”

O Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRPMT-18) realizou na última sexta-feira (28) uma reunião ampliada com representantes de órgãos e entidades que atuam no atendimento à população para falar sobre o curso “Emergências e Desastres“, que ocorreu durante o fim de semana, em Cuiabá. Ele foi ministrado pela pós-doutora, consultora do Conselho Federal de Psicologia e integrante de grupos de ajuda humanitária internacional Angela Coelho.

Segundo a conselheira Marisa Helena Alves, do CRPMT-18, o objetivo do curso é preparar os profissionais de Mato Grosso e, de certa forma, dar a dimensão da contribuição que a Psicologia pode dar nas situações de emergências e desastres. “Nós sabemos que na hora em que ocorre um evento as pessoas ficam muito abaladas. As pessoas têm perdas, de patrimônio, de entes queridos, e isso vai produzir uma desorganização que exigirá um acompanhamento psicológico. Tanto no momento do evento como depois”, explica.

Mas o trabalho deve começar bem antes, ressalta. Trazer a discussão dessa temática deverá servir de subsídio para a formação de um grupo de trabalho dentro do próprio CRPMT-18 e de profissionais capacitados para integrar uma rede em Mato Grosso para atuar em tais situações, salienta Marisa.

Angela Coelho lamenta que durante muito tempo tenha havido preocupação apenas com o pós-desastre. “Se você não tem uma organização antes do desastre ocorrer, isso não vai ocorrer depois. Então, nós temos que nos programar”, alerta. Sem organização prévia o atendimento às populações ficará prejudicado. Até mesmo o afã de ajudar pode atrapalhar se não houver papeis bem definidos. “Você precisa ter uma estrutura para se encaixar nesse projeto de contingência e, então, de fato executar o seu trabalho com propriedade. Senão vai ficar muita gente, um batendo no outro sem saber ao certo o que fazer. E o sobrevivente precisando de cuidado”, exemplifica.

O trabalho do psicólogo, nestes casos, é importante, frisa Angela. É preciso acabar com a imagem de que a atuação desse profissional está restrita aos consultórios. “As pessoas não entendem nossa prática numa fila de entregar colchões. É um momento de conversar com essas pessoas, identificar prioridades, aconselhar o que melhor pode ser feito”, diz. Mas precisa haver uma preparação e um trabalho de conscientização. “É para que o psicólogo não se exponha a risco e não venha ser um segundo desastre na vida daquelas pessoas por não estar preparado, não ter entendido aquela situação”, justifica.

 

A psicóloga vai além e lembra que o desastre é uma “lupa” onde se revela o que já estava complicado antes do evento acontecer. “Quando a gente discute prevenção tem que discutir desigualdade social. Ninguém está morando num barranco porque escolheu assim. Quando você discute prevenção, tem que entrar questões como pobreza, acesso, garantia de direitos, cenários de vulnerabilidade”, frisa. Outro ponto importante é deixar que os profissionais locais tomem a frente nas ações. “Dependendo da dimensão do evento você pode trazer pessoas de outras regiões, mas como um coadjuvante. Quem vai me apresentar à comunidade é o psicólogo daquele território, para gente não tirar a responsabilidade que ele tem com aquela população. Quem entende aquela população é quem mora lá, é quem está lá trabalhando”, explica.

Imprensa – Angela Coelho também tem posições bem definidas em relação ao trabalho da imprensa nas emergências e desastres. “Eu acredito que a imprensa é um instrumento de democracia, de divulgação. Agora, nós temos que também nos precaver de reportagens sensacionalistas. Na hora de abordar, penso que se deve pensar na pessoa e respeitar aquele espaço. As pessoas que estão fazendo a reportagem acham que tem que tornar público o que aconteceu. Tem, mas existem ‘n’ formas, com respeito às vítimas e aos sobreviventes”, frisa.

Às vezes o acesso às vítimas é dificultado por conta do número de pessoas que querem registrar o evento e não tem nada a ver com aquilo, exemplifica. “A pessoa quer ser o primeiro a colocar no Facebook, a primeira a lançar a imagem e não imagina que essa é a imagem de um pai, uma mãe, de um filho. Acho que as pessoas não têm ideia do que isso pode causar ao outro, a quem vai receber a notícia”, lamenta. Para Angela, os cursos de Jornalismo deveriam fomentar a discussão sobre a questão ética da cobertura. “Não é não dar a notícia, mas dar a notícia com responsabilidade”, finaliza.

Fonte: Pau e Prosa Comunicação