Relatório do CFP avalia hospitais psiquiátricos brasileiros
Baixa estrutura, negligência, trabalho forçado e até situações de abusos são alguns dos casos encontrados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) em hospitais psiquiátricos brasileiros. O diagnóstico consta no Relatório Nacional de Inspeções em Hospitais Psiquiátricos, lançado nesta semana, em Brasília (DF). O CRP18-MT foi uma das entidades a participar do trabalho, com vistorias no Centro Integrado de Assistência Psicossocial (CIAPS) Adauto Botelho, em Cuiabá. A unidade está entre as 40 visitadas por mais de 500 profissionais em todo o país.
A conselheira e coordenadora da Comissão de Direitos Humanos e Políticas Públicas do CRP18-MT, Vanessa Furtado, revela que a situação identificada no Adauto Botelho, infelizmente, segue o padrão de outros hospitais psiquiátricos por todo o país, com sucateamento das unidades, problemas de infraestrutura, baixas condições de trabalho, falta de insumos, entre outras deficiências.
No caso do Adauto Botelho, Vanessa alerta para o fato de 100% dos pacientes estarem internados involuntariamente na unidade, contrariando alguns dos princípios das políticas públicas de saúde mental. “Infelizmente, a ausência de serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos como o Adauto Botelho, por exemplo, faz com que estas unidades sejam mantidas mesmo em condições ruins. O que vem acontecendo é um aumento nos investimentos em hospitais, mas não em políticas de saúde mental, o que seria realmente efetivo”, acrescenta a conselheira.
Outra situação encontrada pelas equipes de vistoria foi a alta quantidade de pacientes “asilares”, que é quando a internação, que deveria ser provisória passa a ser permanente às pessoas com sofrimento e/ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de drogas. No Adauto Botelho, segundo o Relatório, há pessoas internadas há mais de 15 anos, além idosos e casos crônicos. O documento cita ainda que de acordo com a equipe da unidade, estes pacientes não possuem mais condições de autocuidado por estarem com a saúde clínica fragilizada.
“Um paciente nestas condições não está recebendo o tratamento adequado. Muitos ficam anos internados em hospitais psiquiátricos, sem contato com seus vínculos externos, longe de suas residências e praticamente isolados. É a velha política de fazer destes hospitais verdadeiros ‘depósitos de gente’”, pontua Vanessa.
Uma das saídas apontadas pelo CFP é a implantação de Centros de Atenção Psicossocial, no modelo CAPS III, que se diferencia de outras unidades por contar com leitos de acolhimento, equipes 24 horas e a possibilidade de internação em casos de agravo de crise ou para desintoxicação química às pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool ou outras drogas. Em Mato Grosso, o único CAPS III em funcionamento está localizado em Várzea Grande.
“O CAPS III é um grande salto na qualidade terapêutica do tratamento aos pacientes, além de contribuir com trabalho das equipes de atendimento, pois possibilita aprofundar os conhecimentos relacionados a cada caso tratado. É um modelo que já foi prometido para Cuiabá em gestões municipais anteriores e até hoje não saiu do papel. O CRP-18 MT segue na cobrança desta importante implantação”, ressalta.
Trabalho – Entre os objetivos do Relatório Nacional de Inspeções em Hospitais Psiquiátricos esteve a análise das condições de trabalho e composição das equipes de saúde no que se refere à multidisciplinaridade e quantidade de profissionais. Para Vanessa Furtado, a atenção às equipes é um dos diferenciais deste documento.
“Sempre se falou sobre a precarização dos hospitais psiquiátricos e os prejuízos aos pacientes, mas é fundamental abordar também o quanto os profissionais que trabalham nestas unidades são diretamente afetados. O índice de adoecimento deles é preocupante e é algo que merece atenção e cuidados”, salientou a conselheira do CRP-18 MT.
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