Psicólogos e estudantes discutem papel da Psicologia no trânsito
Cerca de 80 pessoas participaram no último sábado (28) do Seminário de Psicologia no Trânsito em Trânsito pelo Brasil, realizado no Instituto de Educação (IE) da Universidade Federal de Mato Grosso (IE/UFMT).
A imersão à iniciativa do Conselho Federal de Psicologia (CFP) proporcionou que psicólogos e estudantes discutissem a atuação dos profissionais voltada ao trânsito, desde o processo de obtenção de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e avaliação psicológica, entre outras práticas.
Para a presidente do Conselho Regional de Psicologia da 18ª região de Mato Grosso (CRP 18/MT), Maria Aparecida de Amorim Fernandes, o momento foi oportuno para despertar um olhar diferenciado às práticas já existentes. “O profissional deve parar e olhar para o fazer”, afirmou. “Assim é possível que os psicólogos que atuam nessa área repensem as atividades que exercem, buscando alternativas para melhor qualificá-las”. Segundo a presidente, a contínua discussão sobre o tema é válida, especialmente diante das mudanças no trânsito decorrentes das obras da Copa -2014. “São situações que certamente afetam o condutor e nós, psicólogos, temos que estar atentos quanto à viabilidade real de se autorizar a presença desses motoristas nas ruas”.
A palestra “Psicologia do trânsito no Brasil e no mundo”, ministrada por Renan Junior, do Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso do Sul – 14ª Região (CRP 14/MS), permitiu que os presentes fossem contextualizados sobre os registros históricos dessa prática entre os psicólogos. “Somente conhecendo o que já foi feito é que podemos avaliar se o modelo que existe é o ideal e as discussões sobre o tema em muito podem contribuir com a adoção de mudanças”, avaliou.
Na sequência, a professora universitária de Universidade Federal do Ceará Campus Sobral (UFCE), Gislene Maia de Macêdo, tratou sobre “Mobilidade Urbana, Políticas Públicas e Novas Práticas”. “Precisamos compreender que o exercício do psicólogo do trânsito vai além da aplicação das avaliações psicológicas”, lembrou. “É preciso considerar, por exemplo, as implicações que a mobilidade provoca nas pessoas e os reflexos disso na relação com o outro especialmente em um mundo movido pelo ‘tempo é dinheiro’”, pondera. Dessa forma, a palestrante ressaltou a importância dos próprios psicólogos refletirem sobre as lacunas que podem ser preenchidas na área do trânsito.
Estendendo as discussões apontadas do ano temático da avaliação psicológica, a palestra e “Avaliação Psicológica no Contexto do Trânsito”, ministrada por Marlene Alves da Silva, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), retomou as inquietações ligadas a esse procedimento. “Não podemos desconsiderar a avaliação como uma ferramenta técnico-científica que colabora com o processo de permissão aos candidatos a condutores”, disse. “No entanto, o que temos que refletir é sobre a eficiência dessa normativa, aplicada em todo território brasileiro sem levar em consideração, por exemplo, ao contexto no qual esses condutores estão inseridos”, provocou à reflexão. A palestrante resgatou as legislações que normatizam a atuação do psicólogo do trânsito, a exemplo das resoluções nº 007/2009 e nº 009/2011 do próprio CFP, e revelou o andamento de estudos sobre a criação de normas regionalizadas dos testes psicológicos utilizados na avaliação psicológica no contexto do trânsito. “O momento é de avaliar o processo e verificar novas possibilidades às situações apresentadas.”
Para a coordenadora do evento, conselheira Mirvana Spinola Barbosa, que também responde pela Comissão de Mobilidade Urbana e Trânsito do CRP 18/MT, a iniciativa, com a presença de profissionais renomados, garante a democratização das discussões em todo o país. “É um momento muito rico, pois discutimos desde a eficiência da avaliação psicológica até a participação na consolidação de políticas públicas voltadas ao trânsito”, pontuou. “A partir desse momento, uma carta de intenções será redigida apontando, na visão dos psicólogos, como as instituições públicas e privadas podem contribuir para um trânsito menos violento já que não podemos desconsiderar o indivíduo dentro de um contexto. Essa iniciativa reflete o anseio que os profissionais da Psicologia possuem de ampliar e colaborar com essa área de atuação”, completou.
O evento ainda contou com a presença dos inspetores da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Alessandro Barbosa Dorileo e Antonio Cefulo Neto, que mostraram aos presentes a importância da prudência no trânsito por meio de vídeos educacionais. “Não tenho dúvidas que a psicologia em muito contribui para elevarmos a consciência dos condutores”, pontuou inspetor Alessandro.
Representando o presidente do Departamento Nacional de Trânsito em Mato Grosso, Teodoro Moreira Lopes, a conselheira do Conselho Estadual de Trânsito (Cetran), Maria Auxiliadora Santiago Uhde, reconheceu o papel dos psicólogos no processo de construção de um trânsito mais eficiente, desde a obtenção de CNH por parte dos condutores até a extensão de atividades visando a educação e conscientização no trânsito. “É perceptível a preocupação dos psicólogos e o crescimento da sua participação nesse processo”
Debates - A participação de estudantes nas discussões foi evidenciada pelo coordenador do curso de Psicologia do Centro Universitário de Várzea Grande (Univag), Luiz Guilherme Araújo Gomes, que também é vice-presidente do CRP 18/MT.
“É um momento muito positivo e produtivo já que oportuniza que esses estudantes, como futuros psicólogos, estejam interados das inquietudes dessa área de atuação e possam contribuir com as mudanças propostas por aqueles que já estão no mercado”.
E essa inquietação sobre a atuação dos profissionais dessa área foi o que levou a estudante do 9ª semestre do curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Patrícia Paiva, a participar das discussões. “Trabalho na área e a eficiência da avaliação psicológica é, por exemplo, alvo de debates. Fiz questão de participar para saber mais sobre a viabilidade desse instrumento.
Enquanto isso, a curiosidade foi determinante para que a estudante do 4º semestre do curso de Psicologia do Centro Universitário de Várzea Grande (Univag), Milena Uhdre, se inscrevesse no seminário. A gana pelo conhecimento da aplicação da psicologia voltada ao trânsito surgiu após a realização da avaliação psicológica no Detran-MT para retirar a CNH. “Percebi que na grade do meu curso quase não há conteúdo específico voltado à psicologia do trânsito e achei que o seminário pudesse contribuir com mais conhecimento. Estou muito feliz, pois descobri a utilidade do profissional da psicologia em outras áreas além da voltada à avaliação psicológica”.
Não somente estudantes prestigiaram a iniciativa. O psicólogo Vilmar Tiago de Maia não hesitou em percorrer 445 quilômetros, distância entre Cuiabá e Pontes e Lacerda, para participar do evento. “O bom profissional é aquele que está sempre atualizando o seu conhecimento, aproveitando todas as oportunidades que surgem. Discutir a avaliação psicológica é de extrema importância, não só para aqueles que trabalham com a avaliação do candidato a condutor de CNH, mas a todos os psicólogos”.
Apresentação de Trabalhos – O seminário ainda oportunizou que psicólogos apresentassem trabalhos de pesquisa voltados ao trânsito, compartilhando conhecimento sobre o tema. De Rondonópolis, município localizado a 212 km de Cuiabá, a psicóloga Terezinha Mendonça do Carmo mostrou o resultado do estudo “Acidentes de Trânsito e Produção de Sentidos”. Nele, a profissional tratou das consequências psicológicas causadas aos acidentados de trânsito na terceira maior cidade do Estado. “Percebíamos que, ao tratar de um acidentado, o sistema ainda prioriza os traumas físicos, deixando os traumas psicológicos em segundo plano”. O estudo também estendeu ao entendimento do contexto no qual os indivíduos acidentados estão inseridos.
Já de Sinop, cidade distante 500 quilômetros da Capital, a psicóloga Inês Rezende Oliveira Mendes expôs o resultado da pesquisa “O perfil do motorista na perspectiva do condutor”, estudo que permitiu identificar os aspectos psicológicos daqueles quem são os responsáveis em assumir a direção dos veículos na cidade que é considerada polo na região Norte de Mato Grosso. “Conseguimos diagnosticar o que esse condutor pensa e o ele acha necessário para mudar algumas situações”, disse.
Fonte: Pau e Prosa Comunicação