Novembro Negro 2024: Psicologia Decolonial em Foco no CRP-PE

Novembro Negro 2024: Psicologia Decolonial em Foco no CRP-PE

CRPMT 18

   Nos dias 18 e 19 de novembro de 2024, o Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-PE), por meio da Comissão de Enfrentamento ao Racismo, promoveu mais uma edição do Novembro Negro, evento que reúne psicólogos(as) e representantes de diferentes estados para debater práticas antirracistas e decoloniais na psicologia. Realizado em Recife, o encontro destacou a importância de construir uma psicologia comprometida com a justiça social e com o desmantelamento de estruturas opressoras.

   A psicóloga e conselheira do CRP18-MT, Camiéle Benedita do Carmo, foi convidada pelo CRP-PE a estar no evento e compondo a mesa discursiva do evento, intitulada: “Psicologias: práticas de atenção e cuidado, políticas públicas e equidade profissional nas equipes de trabalho através da perspectiva anti/contra/decolonial.” Durante sua participação, Camiéle abordou os desafios de implementar uma Psicologia decolonial no ambiente de trabalho e a necessidade de políticas públicas inclusivas.

   Camiéle destacou que trabalhar uma Psicologia decolonial em equipes diversas exige mais do que simples conscientização. É preciso desconstruir práticas eurocêntricas e elitizadas que ainda predominam no campo da psicologia. Segundo ela, ser racializado vai além de ser negro; é compreender as interseccionalidades e os contextos sociais, culturais e econômicos que moldam as experiências individuais.

   “Uma psicologia decolonial rompe com os modelos tradicionais, priorizando o bem-estar individual e coletivo ao considerar aspectos sociais, raciais e de gênero. Ela valoriza saberes locais, como os das comunidades quilombolas e povos indígenas, reconhecendo que essas vivências também são essenciais para a saúde mental”, afirmou.

Políticas Públicas e Participação Ativa

   Outro ponto abordado em sua participação foi a construção de políticas públicas inclusivas. Camiéle enfatizou a importância de incluir representantes das comunidades afetadas na formulação dessas políticas. “Não faz sentido que pessoas brancas decidam sobre as necessidades de povos indígenas ou quilombolas sem ouvir diretamente esses grupos. A participação ativa é essencial para garantir que as demandas reais sejam atendidas”, destacou.

   Ela também reforçou que, para serem eficazes, as políticas públicas devem ir além do aumento no acesso aos serviços de saúde mental, promovendo uma saúde comunitária que reconheça as tradições culturais e sociais de cada grupo.

A Caminhada Solitária da Psicologia Antirracista

Camiéle descreveu os desafios de ser uma psicóloga negra em um campo historicamente embranquecido e elitizado. “Com 60 anos de uma psicologia racista, o avanço das práticas antirracistas ainda é solitário e desafiador. Mas desistir não é uma opção. Seguimos firmes porque a transformação começa com a união e a resistência coletiva”, pontuou.

   Ela também compartilhou sua experiência ao conhecer projetos inspiradores durante o evento, como o das recicladoras na Ilha de Itamaracá, que reforçam a importância da troca de saberes para fortalecer a luta pela equidade.

Novembro Negro: Um Espaço de Fortalecimento Coletivo

   O evento, mais do que um espaço de formação, foi descrito como um momento de resistência e fortalecimento. “Esses encontros nos recarregam e mostram que não estamos sozinhos. Estamos ensinando nossa gente, racializando a psicologia e desafiando o status quo”, concluiu Camiéle.

Sobre o Novembro Negro

   O Novembro Negro é uma ação consolidada no calendário do CRP-PE, com o objetivo de promover reflexões plurais sobre racismo estrutural e justiça social. Este ano, o evento contou com participações de representantes de diversos estados, como Viviane Martins (CRP-05), Deivson Miranda (CRP-03) e Pablo Dias (CRP-02), além de mesas discursivas que trouxeram práticas inovadoras e perspectivas transformadoras para a psicologia brasileira.

   O CRP18-MT parabeniza o CRP-PE pela realização do Novembro Negro 2024 e reafirma seu compromisso com a construção de uma psicologia antirracista e decolonial, comprometida com a valorização das diversidades e com a promoção de um cuidado psicológico verdadeiramente inclusivo e representativo.