Nota do Conselho Regional de Psicologia pela valorização da vida

Nota do Conselho Regional de Psicologia pela valorização da vida

Nos últimos dias, o tema “práticas contra a própria vida” tornou-se muito recorrente, mas ainda pouco discutido, veio à tona pela exposição a que jovens têm se colocado através de jogos virtuais que estimulam as práticas suicidas, ou por meio de outros recursos midiáticos de divulgação da temática voltados para adolescentes. Assim, considerando o trabalho de orientar a categoria profissional, bem como a comunidade em geral, o Conselho Regional de Psicologia da 18ª região (MT) vem por meio dessa oferecer algumas orientações para lidar com esta demanda no intuito de divulgar estratégias de valorização da vida:

 

- A princípio ressaltamos que as práticas contra a própria vida são complexas e multifatoriais. Assim, não há como apontar um fator específico que leve a pessoa a tal ato, mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para alguns fatores de risco que podem estar relacionados, dentre eles: adoecimento mental e físico, uso nocivo de álcool e outras drogas, tensão emocional decorrente de eventos adversos (ex.: perda de emprego, separação, vínculos familiares fragilizados, luto, etc.), violências vivenciadas ou uma combinação desses fatores.

 

- Nessas práticas há de se considerar que os contextos histórico, social, econômico e político no qual a pessoa está inserida são particularmente influentes para estratégias de valorização da vida, ou o contrário, pois quando há vulnerabilidade, risco, violências cotidianas, desmonte dos aspectos culturais locais de valorização, isso pode contribuir para aumento de práticas suicidas. A exemplo disso, mesmo que a mídia não apresente com frequência, o suicídio entre a população indígena, lidera o ranking de suicídio no Brasil (conforme visto pelo relatório do Mapa de Violência de 2016 e pelo Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde).

 

- A exposição midiática das práticas contra a própria vida sem o devido cuidado e responsabilidade não é estratégia viável para trabalhar a temática, correndo ainda o risco de propiciar um marketing dessas ações para pessoas que já estão em situação de vulnerabilidade. Cabe aos meios de comunicação buscar informações de qualidade com os serviços de atendimento ou profissionais habilitados técnica e eticamente, e que tenham propriedade para discorrer sobre a temática. Entendendo que a troca de experiências e explanação de especialistas no assunto contribua para aprofundar o debate de forma ética e compromissada com a sociedade. 

- Destacamos que as práticas contra a própria vida, que podem variar desde a ideia de tirar a própria vida (expressa por meios verbais e não verbais), planejamento do ato, tentativa ou, no pior dos casos, a morte, podem e devem ser prevenidas, desde que não tratemos o assunto pelo viés moral, mas sim como uma demanda social e de saúde, sem culpabilizar o sujeito.

 

- Fatores de proteção podem prevenir e reduzir as práticas contra a própria vida, tais como apoio da família, amigos e outros relacionamentos afetivos saudáveis, envolvimento na comunidade, integração social, acesso aos serviços de atendimento e aos direitos fundamentais (saúde, educação, moradia, alimentação, etc.).

 

- Independente dos fatores que possam estar vinculados às práticas contra a própria vida, essas pessoas podem e devem ser acolhidas pelos profissionais de saúde, sejam em âmbito privado ou público.  Em âmbito público vamos ter atendimento disponível nos dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial, que vão desde a atenção nas unidades básicas de saúde ao atendimento em unidades especializadas.

 

Por fim, reafirmamos aqui nosso compromisso em orientar a sociedade e a categoria profissional para que possam ser criadas estratégias que potencializem práticas de valorização da vida em sua heterogeneidade.

 

Morgana Moreira Moura, presidente do CRP18