Fim de manicômios e comunidades terapêuticas é visto como real tratamento de pacientes

Fim de manicômios e comunidades terapêuticas é visto como real tratamento de pacientes

Discutir o tratamento ideal para pacientes com transtornos mentais e cobrar dos órgãos responsáveis ações e políticas públicas deram o tom do evento "Luta Antimanicomial - A luta que não termina?!", na última quinta-feira (05). Realizado pelo Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRP 18-MT), o evento trouxe o especialista em saúde mental e militante da luta antimanicomial no Brasil, Marcos Vinícius de Oliveira Silva. Ao final, encaminhamentos para fomentar o debate foram deliberados entre os participantes.

Na construção da luta antimanicomial há 27 anos, Marcos Vinícius de Oliveira Silva atua entre várias áreas, na Reforma Psiquiátrica e Saúde Mental. Segundo ele, só será possível oferecer boas condições de tratamento aos pacientes a partir do momento em que eles tenham acesso a igualdade social e cidadania. Por conta disso, o especialista explica a cobrança do movimento antimanicomial pelo fim dos manicômios. Entende-se por manicômios não tão somente as estruturas físicas, fechadas, que produz isolamento social das pessoas com transtorno mental, mas também das próprias pessoas que têm internalizada, através de seus preconceitos a ideia de manicômio. Marcos Vinicius também apresenta uma crítica ao modelo de internação psiquiátrica praticado por manicômios e outras instituições, que concebem a internação involuntária como eficaz no processo de recuperação e a abstinência como única forma de tratamento. 

"Falamos em luta antimanicomial e não é à toa. São grandes os desafios de acabar de vez com hospícios e manicômios, que nada mais servem como ferramenta de segregação social. Manicômios não dão futuro ao paciente, pelo contrário, ele retira o futuro. Temos que criar novos lugares em substituição a estes espaços. Por isso, cobramos tanto a Reforma Psiquiátrica", afirmou. 

Diante do auditório lotado no Instituto de Educação (IE), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o especialista contagiou estudantes e profissionais com a sua fala provocando uma reação e uma mobilização em prol da luta antimanicomial.  Presidente do CRP 18-MT, Luiz Guilherme Araújo Gomes, acredita que enquanto profissionais da psicologia, a categoria deve garantir os direitos e segurança aos pacientes. Ele acrescenta que faz parte dessa garantia o questionamento acerca da atuação de políticas públicas voltadas para o setor. Em recente visita à unidade III do Hospital Adauto Botelho, em Cuiabá, Gomes conta que encontrou o local em situação precária, totalmente longe do ideal para o tratamento de pessoas com transtornos mentais.

"Além das condições físicas, há também a questão técnica que impede que o Hospital Adauto Botelho funcione como uma unidade de tratamento psiquiátrico. Com isso, vem acontecendo algo que nós criticamos muito, que são investimentos públicos em comunidades terapêuticas, sendo em uma sua maioria particulares. O correto seria que estes recursos fossem direcionados para políticas públicas, como os Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)", afirma o presidente do CRP 18-MT.

Psicóloga do CAPS II (antigo Verdão), localizado no Jardim Paulista, em Cuiabá, Alessandra Cristhyna de Paula Barros, esteve presente no evento e concorda com a afirmação de que investimentos nos Centros são necessários. Ela conta que a unidade não possui sede própria, o que faz com que os pacientes não tenham uma identidade com o local. "Além disso, temos uma estrutura física precária também. Faltam materiais para oficinas terapêuticas, profissionais e até alimentos para o lanche aos pacientes", complementa.

Alessandra acrescenta que não há programas de inserção de pessoas com transtornos mentais, pois não existe o interesse por parte dos governantes neste grupo de pessoas. "Na visão do governo, são pessoas que não dão retorno, pois não geram renda e são pouco produtivas."

A importância desta rede foi destacada pelo defensor público Marcos Rondon, que cobrou o compromisso dos colegiados presentes no evento para implantação da rede de atenção psicossocial no Estado de Mato Grosso.

Planejamento - Representando a Secretaria Municipal de Saúde de Várzea Grande, a assistente social do CAPS II - VG Soraya Miter Simon, levou como encaminhamento a criação de um fórum inter setorial de discussão de saúde mental, com profissionais da área. O objetivo é fazer com que o plano de rede de atenção psicossocial seja elaborado no município e em Cuiabá.

"Pelas informações repassadas pelos municípios do Estado, os planos já estão elaborados e aprovado, faltando apenas a Capital. Só depois de todos prontos é que podemos encaminhar ao Estado para que seja enviado ao Ministério da Saúde", explica Soraya.

Atuação - Militante da luta antimanicomial, Marcos Vinícius de Oliveira Silva ressaltou no evento que desde o início das campanhas pelo fim de hospícios e manicômios, o sistema Conselho sempre esteve presente. "Os conselhos regionais são peças fundamentais nesta luta, porque eles ajudam no trabalho de conscientização, divulgação e legitimação. É muito importante que as entidades em todo o país estejam empenhadas em recolocar a luta antimanicomial em discussão".

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Fonte: Pau e Prosa Comunicação