
Encontro sobre Laicidade e Religiosidade debate violência e respeito à individualidade
Dizer não à violência e o respeito à individualidade do outro foram os assuntos destacados durante o 3º encontro da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRP 18-MT) com a temática Laicidade e Religiosidade na Atuação da Psicologia. O evento ocorreu na noite de quinta-feira (16) no auditório do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso.
A presidente do CRP 18-MT, Morgana Moura, ressaltou que a proposta desta temática foi pensando nas últimas repercussões dentro da Psicologia, como a questão da Resolução 001 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que vem sendo questionada judicialmente para garantir a realização de terapias de reorientação sexual, além de fatos como a depredação de centros de umbandas.
“Quando olhamos para a questão da Laicidade as vezes a gente esquece de falar do aspecto da religiosidade no atendimento, seja no âmbito clínico seja em políticas públicas, tem que ser considerado a religiosidade e esta é uma das críticas que as pessoas fazem à Psicologia. O psicólogo não pode se posicionar no atendimento, no sentido de incentivar, mas para entender o processo de subjetividade da pessoa”, comentou.
A conselheira e coordenadora da Comissão de Direitos Humanos, Zeni Luersen, comenta que a escolha do tema surgiu durante alguns debates e também por conta das questões atuais em que o Conselho vem trabalhando como a defesa da permanência da Resolução 001.
“A grande questão em se tratar junto estes dois temas é justamente a confusão que se faz. O que seria a laicidade? Então não se poderia ter uma escolha religiosa? E isto é um equívoco. Isto é uma questão pessoal que não se deve deixar influenciar no trabalho, porém, ocorre um entendimento de que, por algumas vezes, acaba ultrapassando esta barreira. Queremos trazer isto para discussão justamente para mostrar que devemos sempre respeitar a individualidade do paciente, respeitar sua escolha e a religiosidade faz parte da subjetividade humana”, explica.
Dentre os debatedores, estava o defensor público Marcos Rondon Silva que defendeu que o Direito não tem legitimidade para regular a laicidade e religiosidade como vem ocorrendo com frequência no Brasil. Ele optou por não comentar as últimas decisões, por entender que se trata de uma questão técnica e apontou uma preocupação com o fato de o discurso religioso ser normativo e violento.
“O homem é uma rede de crenças e desejos e não se resolve desejo em tribunal. Se a religiosidade não é do direito como esse desejo se estrutura? Simplesmente não resolve. O que precisa é ser solidário e pensar no sofrimento do outro. Encerrar a dicotomia do nós e ele”, argumentou.
O psicólogo e psicanalista Amarildo Ferreira Campos pontuou que o Brasil vem seguindo uma tendência de pensar sob a ótica de apenas uma religião e é preciso pensar democraticamente. Ele ressalta ainda que sabe que nunca se terá uma unanimidade, mas que é preciso dizer não à violência. “O trabalho da Psicologia é contra toda forma de violência”, afirmou.
Cerca de 100 pessoas marcaram presença no encontro e a psicóloga Tatiane da Costa Corrêa foi uma delas. A profissional destacou que este é um tema que complexo e como foi dito durante o debate não se encerra neste momento, mas servirá como base para que ela possa se aperfeiçoar. “Este foi meu primeiro contato com o tema e avalio como positivo e agora vou buscar mais conhecimento e novos debates para ter uma opinião sobre o assunto”, comentou.