Emoção e reconhecimento marcam ato solene pelos 60 anos da Psicologia no Brasil

Emoção e reconhecimento marcam ato solene pelos 60 anos da Psicologia no Brasil

CRPMT 18

Reencontros, reconhecimento e muita emoção marcaram as comemorações pelos 60 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil em ato solene realizado nesta quinta-feira (18 de agosto), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT). O evento contou com a participação de representantes do Conselho Federal de Psicologia (CFP), de profissionais ligadas(os) à saúde pública e movimentos sociais, além de Psicólogas(os) pioneiras(os) tanto na história da profissão e da ciência no estado como na criação do Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRP18-MT).

As conselheiras do CFP - articulador do evento juntamente com o CRPMT - que compareceram ao ato solene ressaltaram os avanços experimentados pela Psicologia no país e a oportunidade de celebrá-los. “Saímos de uma psicologia mais individual para uma psicologia com uma inserção mais social, preocupada com a questão da democracia, com a questão da diversidade da população, o acesso aos direitos. E, principalmente, nos últimos 30 anos, a partir da Constituição, nos inserimos nas políticas públicas”, lembrou Neuza Maria de Fátima Guareschi, do Rio Grande do Sul.

“Uma das coisas mais gratificantes é ver como em cada estado a Psicologia assume cores, características próprias, porque responde a demandas que são particulares daquele estado. Então ver o movimento da psicologia dos povos indígenas, a psicologia pintada de urucum, ver a resposta da psicologia ao povo negro, é muito bonito. É muito bom ver que estamos conseguindo construir uma psicologia brasileira, compromissada com a justiça social e com a transformação”, reforçou Izabel Augusta Hazin Pires, do Rio Grande do Norte.

A representante mato-grossense no CFP, Marisa Helena Alves, também reconheceu os avanços. “É uma honra chegar nos 60 anos com tanta produtividade, com uma psicologia tão importante para a sociedade, cumprindo seu papel nas grandes lutas em defesa dos direitos humanos, em defesa do povo mais vulnerabilizado, das políticas públicas”, disse. A conselheira destacou ainda a importância de estar festejando naquele espaço: “comemoramos com a sociedade, na ‘Casa do Povo’, na Assembleia Legislativa, revendo os colegas, promovendo esse encontro que é super importante para a categoria. É muito bom estar aqui”.

História

Uma das pioneiras, Marisa ajudou também a contar um pouco da história da Psicologia em Mato Grosso. “Eu tive o privilégio de atuar efetivamente no desmembramento e na construção do CRP18. E esse CRP tem esse papel também importante dentro do sistema de estar à frente dessas pautas e dessas lutas do Conselho Federal”, salientou.

Outra partícipe desse processo, Maria Aparecida de Amorim Fernandes, primeira presidente do CRPMT, viajou no tempo para contar como foi esse desafio. “Quando cheguei aqui nós tínhamos poucas(os) psicólogas(os) e começamos um trabalho de juntar a categoria, de buscar os espaços, de colocar a ciência ao conhecimento da sociedade. [...] Então foi um trabalho de desbravar mesmo a psicologia no estado. A 18ª região nasceu de muita luta, de muito desejo de ter uma identidade própria. Foi uma luta política inclusive. Nós precisávamos, além de ter uma base de psicólogas(os), que elas(es) fossem engajadas(os) nas lutas. E aí a militância é importante nesse momento, você defender uma categoria, defender uma bandeira”, frisou.

Essa história é contada por meio de um videodocumentário produzido pelo CRPMT e que foi apresentado durante o Ato Solene. Através de entrevistas e imagens de arquivo, o material reconhece o empenho de psicólogas(o) pioneiros no desenvolvimento da ciência e da profissão como Eugênia Paredes, as próprias Marisa Helena e Cida Amorim, Socorro de Maria Ribeiro Andrade, entre outras(os). Homenagem tanto aos 60 anos da regulamentação como ao Dia da(o) Psicóloga(o), comemorado em 27 de agosto, ele pode ser visto no canal do YouTube do CRPMT ou clicando AQUI.

Mesa de honra

Vários desses pontos encontraram eco nas falas das(os) membras(os) da mesa de honra. O presidente do CRPMT, George Moraes De Luiz, ressaltou a importância do viés coletivo da solenidade, que mostrou o crescimento da Psicologia nos mais diferentes âmbitos e áreas. “A Psicologia é uma profissão relativamente nova, mas ocupa diversos espaços. Então ela está presente desde as políticas de saúde e assistência social, trânsito, clínica, empresas. Então nós somos uma área que, além de muito importante, é reconhecida pelas nossas contribuições à sociedade. É uma grande satisfação poder comemorar esses 60 anos”.

Otávio Caldas, presidente da Associação de Psicologia do Estado de Mato Grosso, além de reconhecer o crescimento da profissão, aproveitou para tratar de questões prementes como melhores condições de trabalho e uma carga horária justa e regulamentada. “As(os) profissionais de Psicologia têm sido cada vez mais procuradas(os), por isso pedimos ao Poder Público que olhe para nossa profissão com carinho, que lute pelo cuidado com a saúde mental da nossa população mato-grossense, que apoie as campanhas de saúde mental e a luta pela Psicologia”, solicitou.

Everaldo Santos, mestre em Educação e liderança do Movimento Negro, emocionou a todas(os) com seu relato de vida e falou da necessidade de um olhar mais atento às questões raciais, inclusive dentro da Psicologia. “Acredito que há pouco menos de 100 anos era impensável talvez para um negro num canavial desses qualquer por aí que algum deles estaria aqui sentado”, exemplificou. “Eu acredito que hoje ainda é impensável para muitos. Nós temos uma batalha muito grande pela frente em relação às desigualdades raciais no Brasil. E quando eu falo da minha profissão nós conseguimos identificar algumas dificuldades que ainda existem. [...] Nós vemos muitas(os) psicólogas(os) trazendo percepções do senso comum para falar sobre questão racial. Isso é muito grave”, lamentou.

Luciana Gomes, coordenadora do Programa de Saúde Mental dos Trabalhadores da Saúde da SES/MT, afirmou que a psicologia é um instrumento de transformação. “É uma ciência do direito, da dignidade humana e nesse principal objetivo o cuidado com as pessoas necessariamente é uma ciência de luta. Quero aproveitar essa oportunidade para dizer que não faremos uso profícuo dessa profissão se não entendermos que, ao escolher a Psicologia, escolhemos uma bandeira de luta. Uma bandeira para lutar pelas pessoas em situação de vulnerabilidade, todas elas”, opinou.

Apresentação de estudos

Outra integrante da mesa, a conselheira do CRPMT Olga Adoracion Leiva Cabelho de Santana apresentou o “Orientativo de Práticas das Psicólogas e Psicólogos do Sistema Penitenciário de Mato Grosso: Interfaces com a saúde e a justiça”. E a psicóloga Eliane Acosta dos Santos falou sobre o “Levantamento de Psicólogas e Psicólogos atuantes nos contextos do Poder Judiciário e de Interfaces com a Justiça no Estado de Mato Grosso”. Ambos foram produzidos pela Comissão de Psicologia e Interfaces com a Justiça do CRPMT.

Homenagens e apresentação cultural

O Ato Solene contou também com a entrega de certificados como homenagem pelos relevantes serviços prestados ao estado do Mato Grosso e alusivas aos 60 Anos da Regulamentação da Psicologia no Brasil. Para encerrar em grande estilo houve apresentação cultural da psicóloga e Mestre da Cultura Vera Capilé, que presentou o público com a obra “Balada Para Un Loco”, de Astor Piazzolla.