Diálogo sem julgamento moral é a melhor forma de acolhimento às pessoas em sofrimento
Nos últimos dias, o tema “práticas contra a própria vida” tornou-se muito recorrente, mas ainda discutido com muito tabu pela maioria das pessoas. A presidente do Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRP 18-MT), Morgana Moura, adianta que a melhor forma de fazer o acolhimento da pessoa em sofrimento é justamente não ter receio de falar, é dialogar desprendido de qualquer julgamento moral.
“A princípio ressaltamos que as práticas contra a própria vida são complexas e multifatoriais. Assim, não há como apontar um fator específico que leve a pessoa a tal ato, mas é preciso estar atento às mudanças de conduta, reclusão, afastamento do convívio social, e o fundamental é não ter receio de falar. É preciso falar abertamente. E quando for falar, é fazer o acolhimento sem julgamento moral, sem culpa”, explica.
Morgana pontua ainda que é preciso entender que quando uma pessoa sofre, este sentimento escapa do alcance e é nutrido por um sentimento de inferioridade, impotência e não compete ao outro julgar.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para alguns fatores de risco que podem estar relacionados, dentre eles: adoecimento mental e físico, uso nocivo de álcool e outras drogas, tensão emocional decorrente de eventos adversos (ex.: perda de emprego, separação, vínculos familiares fragilizados, luto, etc.), violências vivenciadas ou uma combinação desses fatores.
Nem todo mundo tem essa percepção, por isso, é importante que os amigos e familiares, fiquem atentos aos sintomas sutis como alguns discursos: “eu acho que vocês seriam bem melhores sem mim”. Frases que as vezes são ditas no dia a dia e ignoradas. “Temos que prestar atenção na sutileza do dia a dia e na frequência desses discursos”.
A indicação para que busque uma terapia nem sempre é bem recebido, para evitar qualquer desgaste neste momento, a presidente destaca que é preciso lembrar que a terapia não é só para quando está doente, ela também tem o caráter de prevenção e mostrar que o tratamento é muitas vezes para evitar que aquilo se torne um adoecimento.
“A gente tende a imaginar que médico e psicólogo é só para quando se está doente, mas temos que fazer o trabalho preventivo. É um trabalho de redução de danos, de prevenção para que não se torne um adoecimento. Quando propor a terapia mostrar que existe a possibilidade de que este sofrimento não se intensifique e nem significa que seja uma doença crônica, mas que a pessoa está em uma condição vulnerável”, orienta.
Sobre o julgamento, as vezes dos próprios familiares, às pessoas que tentam contra a própria vida, Morgana avisa logo. “Sim, a pessoa queria aparecer, mas não no sentido de exibicionismo, mas de tentar gritar todo o sofrimento. Quando há uma tentativa é uma forma de mostrar que ela está sofrimento. Não é uma tentativa de aniquilar a vida, mas, sim, de aniquilar o sofrimento. A partir do momento de que a família tem consciência disso, o aspecto do julgamento moral precisa ser anulado. Uma tentativa é uma forma de dar visibilidade ao sofrimento e precisa ser tratado com atenção e cuidado, porque uma oportunidade dessa pode não ocorrer novamente”, alerta.
Exibição na mídia
A exposição midiática das práticas contra a própria vida sem o devido cuidado e responsabilidade não é estratégia viável para trabalhar a temática, correndo ainda o risco de propiciar um marketing dessas ações para pessoas que já estão em situação de vulnerabilidade.
“Cabe aos meios de comunicação buscar informações de qualidade com os serviços de atendimento ou profissionais habilitados técnica e eticamente, e que tenham propriedade para discorrer sobre a temática. Entendendo que a troca de experiências e explanação de especialistas no assunto contribua para aprofundar o debate de forma ética e compromissada com a sociedade”, defende.
Proteção
Fatores de proteção podem prevenir e reduzir o suicídio e demais práticas contra a própria vida, tais como apoio da família, amigos e outros relacionamentos afetivos saudáveis, envolvimento na comunidade, integração social, acesso aos serviços de atendimento e aos direitos fundamentais (saúde, educação, moradia, alimentação, etc.).
Auxílio
Independente dos fatores que possam estar vinculados às práticas contra a própria vida, essas pessoas podem e devem ser acolhidas pelos profissionais de saúde, sejam em âmbito privado ou público. Em âmbito público vamos ter atendimento disponível nos dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial, que vão desde a atenção nas unidades básicas de saúde ao atendimento em unidades especializadas.
Fonte: Pau e Prosa Comunicação