
Conselho Regional de Psicologia realiza debate de políticas públicas sobre drogas
O Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRP 18 - MT) realizou o debate “Drogas: dialogar é preciso”. O encontro foi realizado com o objetivo de discutir as políticas sobre drogas com a presença de duas debatedoras, as psicólogas Adriana Rangel e Daniela Bezerra. O evento ocorreu na noite de quarta-feira (18) no Univag.
Um dos principais temas do diálogo foi a portaria 3588/2017, que entre as determinações, suprime o fechamento de leitos em hospitais psiquiátricos, indo contra três décadas da luta antimanicomial liderada pelo setor de saúde mental do país. A psicóloga Adriana Rangel atua no projeto “Psicanálise na Rua” com pessoas em situação de rua no Beco do Candeeiro, em Cuiabá, e comenta sobre essas alterações.
“Estamos passando por um tempo muito duro. O SUS (Sistema Único de Saúde) e SUAS (Serviço Único de Assistência Social) estão passando por uma fase de desmontes. O Estado Brasileiro tem tomado uma direção política de não sustentar mais o estado de bem-estar social. Só se pensa em combate por meio de violência, e o que diz respeito a políticas de incentivo a vida, não estão sendo promovidas. Precisamos pensar em abrir diálogo com a cidade e as pessoas, porque é preciso que lembrar todos os dias que são pessoas que estão sofrendo”, afirma.
A presidente do CRP, Morgana Moura, afirma que o debate é de extrema validade justamente por estar diretamente relacionada a defesa das políticas públicas de proteção aos direitos humanos. “Fazemos questão de discutir esse tema, porque isso reverbera no posicionamento que o Conselho tem, de defesa das pessoas que precisam de atendimento, de acompanhamento da política pública e não tem. É também espaço de orientação aos profissionais da área que as vezes na formação, tem acesso a informação de forma precária”, pontua.
A portaria ainda está em contraposição às determinações da Lei 10.216/2001 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental e também, ainda amplia os valores pagos para a internação e estimula a criação de novas vagas psiquiátricas em hospitais gerais. O texto também prevê a expansão e o aporte de financiamento público às chamadas comunidades terapêuticas, ligadas à iniciativa privada e, na sua maioria, de cunho religioso.
O debate reuniu cerca de 100 pessoas entre estudantes de psicologia, psicólogos, assistentes sociais, mestrandos e profissionais da área interessados no tema. A psicóloga debatedora, Daniela Bezerra, acredita que falar sobre o assunto auxilia na formação dos profissionais.
“Estar aqui falando para profissionais da área é muito bom e confortável. Escuto discursos conservadores, e bem tristes fora daqui, então é muito satisfatório falar sobre este tema, ainda mais porque todo mundo quer saber, quer perguntar. Esperamos que as nossas experiências ajudem esses profissionais. Quando eu comecei a trabalhar com psicanálise em dependência química, não se falava sobre isso. Temos que falar que é importante estar aberto ao quem vem do outro e não impor um tipo de tratamento e salvação”, finaliza.
Fonte: Pau e Prosa Comunicação