Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso participa da II Jornada Distrital de Psicologia e Diálogos Negros, Indígenas e Quilombolar em Brasília

Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso participa da II Jornada Distrital de Psicologia e Diálogos Negros, Indígenas e Quilombolar em Brasília

CRPMT 18

   Nos dias 25 e 26 de outubro, Brasília sediou a II Jornada Distrital de Psicologia e Diálogos Negros, Indígenas e Quilombolas, evento promovido pelo Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP-DF) e dedicado ao tema “O Bem Viver Dessa População”. O evento reuniu psicólogas, conselheiras, acadêmicas e ativistas, que se engajaram em discussões sobre saúde mental, justiça social e a construção de políticas públicas inclusivas para populações negras, indígenas e quilombolas.

   Representando o Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRP18-MT), a psicóloga e conselheira Camiéle Benedita do Carmo levou para o evento a perspectiva mato-grossense, contribuindo para a troca de experiências e saberes entre as participantes. Durante sua fala, Camiéle abordou o conceito de uma Psicologia antirracista, destacando as limitações encontradas para a efetivação desse modelo, como a escassez de teorias que possam fundamentar essa prática de maneira robusta. Para ilustrar sua fala, ela recorreu a uma citação da escritora Grada Quilomba: “O fato é que nossas vozes, graças ao sistema racista, têm sido sistematicamente desqualificadas, consideradas conhecimento inválido ou então representadas por pessoas brancas que, ironicamente, se tornam especialistas em nossa cultura ou até em nós mesmos”.

   Essa reflexão serviu como ponto de partida para discutir como a Psicologia ainda é, em grande parte, elitizada e eurocêntrica, limitando a inclusão e o reconhecimento de contribuições de teóricos negros e indígenas. Outro ponto central foi a inclusão, somente a partir de 2017, do quesito raça e etnia no cadastro de psicoterapia, permitindo, finalmente, que se comece a levantar dados sobre o acesso de pessoas negras à terapia. Esse avanço, embora tardio, abriu caminho para discussões sobre a racialização e a acessibilidade dos serviços psicológicos.

   Durante o evento, Camiéle também ressaltou a ausência de teóricos negros nas grades curriculares da Psicologia, mencionadno nomes como Virgínia Bicudo, Frantz Fanon, Cida Bento e Bell Hooks, cujas obras permanecem, em grande medida, marginalizadas no meio acadêmico. “A Psicologia diz ser inclusiva e humanizada, mas ignora o conhecimento teórico de nossos pensadores negros, não os colocando como ciência”, refletiu. Para ela, essa exclusão afeta diretamente a formação das profissionais, que deixam de estar preparadas para compreender e abordar adequadamente as questões raciais.

   O evento contou com palestras e relatos de outras psicólogas ativistas. Obi Caroline Saraiva, yalorixá e psicóloga, discutiu a necessidade de descolonizar a Psicologia para melhor atender as comunidades tradicionais, ressaltando a importância de representatividade e ações afirmativas no Conselho Federal de Psicologia (CFP). A psicóloga indígena Rafaela Andrade Cruz, do povo Cambeba, abordou a conexão entre território, cultura e saúde mental indígena, destacando a importância de integrar os saberes tradicionais aos conhecimentos modernos de saúde.

   Além de promover uma rica troca de conhecimentos e experiências, a II Jornada Distrital discutiu o papel da Psicologia na promoção da diversidade cultural e na valorização das subjetividades dos povos tradicionais. A criação de um ambiente de aprendizado e respeito à diversidade foi apontada como essencial para uma prática psicológica que acolha verdadeiramente todas as pessoas, superando modelos eurocêntricos e elitistas.

   A participação de Camiéle Benedita do Carmo na jornada reafirma o compromisso do CRP18-MT em promover uma Psicologia antirracista e inclusiva, incentivando o diálogo e a construção de uma prática psicológica que respeite as diversas realidades culturais do país. Ao final do evento, ficou clara a urgência de um movimento contínuo para que a Psicologia brasileira se abra a uma perspectiva mais ampla e inclusiva, englobando o protagonismo e os saberes das populações negras, indígenas e quilombolas.

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